segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Desperdiçamos comida, poluímos os corpos d’água, o que queremos nós?


       Pelo jeito a minha última intervenção aqui mostrou não haver muita preocupação com o fato de jogarmos no lixo cerca de 30 milhões de toneladas de alimentos por ano. 
       Como fora vão também outros tantos milhões de toneladas entre as fazendas e os balcões de consumo, o que nos faz perder 35% da produção agrícola. Nos EUA, perde-se 10%.
       Tudo bem, estamos no país da fartura, onde se prefere engendrar leis que facilitem prejuízos ao meio ambiente em nome da falta de alimentos.
       Tentemos por outro lado. Quem sabe nossa pequena plateia se preocupe mais com a água. Afinal, se o petróleo, de provável sabor intragável, provocou e provoca tantas guerras no planeta, imaginem o que fará a escassez de água quando ela passar a ser cotada nas Bolsas.
      Segundo a ONU, o ritmo de uso e o crescimento populacional fizeram a disponibilidade de água doce por habitante cair 43% nas últimas décadas. A previsão é de que, em vinte anos, caia mais 20%.
    As maiores demandas ficam por conta da agricultura e dos usos urbanos domésticos e industriais. 
       O Brasil, por deter 12% da água doce do planeta, não as trata muito bem. Temos nove milhões de quilômetros de rios. Desnecessário relatar os benefícios dessa geografia hídrica. Uma só palavra talvez os resuma: vida.
    Contudo, esta é mais uma de nossas farturas que, aos poucos, vai se esgotando. Perto de 80% do consumo são gastos na agricultura, principalmente, a irrigada. Mas aí não tem muito jeito.
       Ontem, fiz um trajeto marrom, de Brasília a Unaí (MG). Pensem numa paisagem de trigo empoeirado. É feio, mas, nesta época, sempre é assim. As poucas manchas verdinhas que vi deviam-se às culturas plantadas com irrigação.
   Sem alarme: em dois meses, tudo estará plantado, principalmente, com soja e milho, pois as chuvas já terão chegado. Há regiões em que plantar sem irrigação é suicídio. Mas o fato de 69% do que se retira dos corpos d’água não voltarem a eles é um exagero.
        Embora sejamos ricos em recursos hídricos, nossos rios estão 80% concentrados na Bacia Amazônica. Do lado urbano, o crescimento populacional, motivado pelo forte êxodo rural nas últimas cinco décadas, tornou dramática a situação de megalópoles como São Paulo, hoje, com uma das menores disponibilidades hídricas dentre as principais cidades do mundo.
       Efluentes domésticos e industriais, assim como sofás, pneus e geladeiras velhas nadam incólumes em nossos rios. Metade da água usada na capital paulista vem da bacia do Piracicaba e não mais de suas fontes próximas. Parte do consumo já é retirada em rios das vertentes da Serra do Mar, antes preservada.
       Procuro um exemplo de um rio brasileiro que tenha sido despoluído. Todos conhecem exemplos clássicos no exterior. Aqui não há. Transposições e projetos de reuso existem, mas são caros e polêmicos.
     Os desvarios que se pretende com as áreas de preservação permanente, sobretudo as que ladeiam os cursos d’água, e a resistência em recuperar as matas dali retiradas são de um imediatismo imbecil perto do prejuízo que a agricultura poderá ter no futuro com a escassez.
       Mesmo a presidente da Confederação Nacional da Agropecuária (CNA), senadora Kátia Abreu, já compreendeu isso e pede “pelo amor de Deus” para que o feudalista Ronaldo Caiado facilite a aprovação do Código Florestal como redigido na MP 571.
       O que já será ruim. Ou, digamos, menos pior. Mas, pelo menos, poderemos virar página tão ingrata para o País.

Fonte: Terra

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