terça-feira, 28 de agosto de 2012

Arquiteto do Piauí está entre os 50 melhores do mundo


Casa na Pedra do Sal



Gerson e a atriz Maitê Proença
 O arquiteto Gerson Castelo Branco top entre os cinquenta melhores arquitetos do mundo segundo Oscar Niemeyer. Nascido em Parnaíba, no Piauí, designer autodidata, Gerson Castelo Branco já soma 40 anos de profissão. Em centenas de trabalhos, ele conseguiu imprimir o seu estilo na arquitetura e no design de interiores, reconhecido inclusive internacionalmente. Mas a história desse profissional começou totalmente por acaso aos 14 anos, quando a família já havia se mudado para Fortaleza

Está a todo vapor com seus projetos, debruçado na sua prancheta “Made in Piauí”. Esteve recentemente em campinas São Paulo cuidando pessoalmente da reforma de um dos seus projetos.
Desajeitado nos esportes, foi nessa época que descobriu a habilidade de reproduzir e desenhar uma perspectiva. Tomou gosto pela coisa. Depois, prestou por duas vezes vestibular para a faculdade de arquitetura, mas acabou entrando na Universidade deBelas Artes na Bahia. Não concluiu, mas apurou ainda mais o olhar.

“Eram os anos 1970 e a Bahia de Caetano, Gal e Gil, era o lugar efervescente para se estar naquele instante”, relembra. Nessa época, já trabalhava informalmente em um escritório de arquitetura. Tornou-se autodidata e também pôs o pé na estrada, no melhor estilo hippie, on the road. Visitou a Cordilheira dos Andes, adentrou a selva amazônica, conviveu com tribos indígenas e ficou totalmente sem dinheiro.

“A vivência dos povos andinos foi uma experiência transcendental; me deixou com outros hábitos. Quando regressei ao Brasil, já não conseguia morar na cidade nem entendia a ostentação arquitetônica de muitas casas. Vivemos numa incoerência absurda, com arquitetura e décor europeus e necessidades de um país tropical. Essa experiência me fez buscar alternativas”

De volta ao Piauí, resolveu virar ermitão, construiu a sua própria casa de praia no meio do nada e da maneira mais rústica possível. Sem água, sem luz, nem estrada por perto. Gerson ergueu paredes de taipa, utilizou a palha de carnaúba no teto e esteiras de cipó de macaco. O mobiliário, todo reaproveitado, era fundamentalmente formado por chaises imensas, também aproveitadas como camas. Gerson também usou mobiliário artesanal do Ceará. “Usei tudo o que estava à mão para transformar”.

Mesmo autodidata, além de aumentar os projetos, seu conhecimento e originalidade o levaram a ser chamado para palestras e eventos de arquitetura justamente por ser precursor do apelo sustentável.
Despretensiosa e original, a casa virou um ícone. Ainda hoje, a Casa da Pedra do Sol é ponto turístico da Praia do Coqueiro. Gerson mal sabia, mas aí começariam as bases e os diferenciais do seu trabalho, que batizou de “Paraqueira”, como ele designava, ainda criança, a alegria, a satisfação, os momentos alegres da infância.

Datada de 1986, a Casa da Pedra do Sal, na ilha de Santa Isabel, no Piauí, foi construída em carnaíba, laje de castelo e talo de babaçu. Para o seu autor, defensor da identidade brasileira e de raízes nordestinas na arquitetura e no décor, a casa contempla e respeita a natureza

Mais tarde, numa dessas coincidências, descobriu que paraqueira é também o nome de uma árvore da Amazônia. Hoje, é significado de identidade, de resgate das raízes culturais na arquitetura, no décor e no design. “É uma proposta de morar diferente, é a identidade brasileira com raízes nordestinas, preocupada com a melhor implantação do projeto no local; respeito à natureza, reverência ao sol, à ventilação, à natureza”, complementa o autor.

A partir daí, a procura para a execução de projetos residenciais não parou mais. Primeiro foi chamado para reformar uma casa de praia. Na sequência os pedidos começaram a chegar da capital. “A arquitetura de Teresina era uma arquitetura de caixas, cheia de vidros, algo cenográfico, mas fora da realidade quente do estado. Fiz isso durante três anos, mas também era muito influenciado pela arquitetura de Janete Costa e Acácio Gil Borsoi”, diz. “Um casal genial que revolucionou a arquitetura estabelecida. Janete foi uma amiga do coração; fazíamos jantares na casa deles em Recife”.

A experiência pela Amazônia também influenciou o trabalho de Gerson e ajudou a definir um de seus traços marcantes.
O emprego das formas geométricas da asa-delta, que também lembram dobraduras ou os origamis de papel. Na serra, a 700 metros de altitude, ele ergueu uma casa assim, montada sobre pilares com mão-francesa e meias-paredes. Na prática, também passou a usar novos materiais, antes mesmo da questão ecológica entrar em pauta. Eucalipto autoclavado, tetos altos em taubília, também passaram a ser recorrentes em seus trabalhos.

Situada em Viçosa, no Ceará, o projeto Paraqueira in Natura foi planejado em um terreno de 33 hectares de mata preservada rodeada por sete cachoeiras. Apesar das formas rebuscadas, a casa não passou por nenhuma prancheta. O resultado é esta construção que concedeu três prêmios e 8 páginas na Architectura USA para Gerson Castelo Branco. A construção começou a partir do telhado com toras de Carnaúba, talos de babaçu, madeira, pedra e vidro.

A partir de 1978, seus projetos foram descobertos e publicados pela primeira vez em uma publicação dirigida por Olga Krell e seu olhar especial para o talento. Foi o primeiro reconhecimento dos muitos que vieram a seguir. Prêmios nacionais e internacionais e matérias na revista norte-americana Architectural Digest (revista que comparou suas criações às de Frank Lloyd Wright) são alguns dos pontos altos do trabalho de Gerson.

Raízes nordestinas, preocupada com a melhor implantação do projeto no local.
Mesmo autodidata, além de aumentar os projetos, seu conhecimento e originalidade o levaram a ser chamado para palestras e eventos de arquitetura justamente por ser precursor desse apelo sustentável. Na Costa Rica, foi convidado especial de um encontro mundial de arquitetura verde. Fotografados, outros projetos foram publicados na Rússia, Austrália, Alemanha, França, Itália e até no longínquo Vietnã. “Já fazia pela própria vivência e necessidade… Tudo era improvisado”. Mas suas linhas não são exatamente para locais longe da metrópole. Ele assina projetos urbanos inconfundíveis, para onde leva suas propostas devidamente adaptadas à urbe.

Hoje, Gerson Castelo Branco mora em Viçosa, cidade na divisa entre Ceará e Piauí, tem escritório em Fortaleza e uma casa de praia no Piauí. Mantém vivo o espírito aventureiro e o olhar atento para os recursos naturais. Aprendeu paisagismo, aprimorou o décor de interiores, mas não afrouxou a visão própria sobre o Brasil e os brasileiros na questão. “Ainda hoje há uma interferência muito grande das referências estrangeiras na arquitetura e na decoração. Convivo com proprietários que compram mobiliário em Miami mas também aprenderam a valorizar elementos artesanais. A casa virou um grande parangolé”, brinca.

No litoral norte de São Paulo, a casa projetada por Gerson Castelo Branco preserva a mata e se integra ao meio ambiente graças aos pilares de eucalipto autoclavado com 15 metros de altura.
Mais fotos de casas: clique AQUI
Fonte do texto: 100porcentodesigner e Portal decoração (Via: Proparnaiba.com)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Chinês constrói 'Lamborghini Reventon' em casa


 Veículo foi idealizado por Wang Jian.
Ele exibiu carro em Suqian, na província de Jiangsu.
O chinês Wang Jian fabricou um carro em sua casa que é inspirado no esportivo de luxo Lamborghini Reventon. Jian exibiu sua "Lamborghini" em Suqian, na província de Jiangsu, na China, segundo o jornal inglês "Daily Telegraph".
Wang Jian exibe carro inspirado no esportivo Lamborghini Reventón. (Foto: Reprodução/Daily Telegraph)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Entrevista com a chavalense Lourdes Albuquerque, mãe de Pedro Albuquerque

    Essa entrevista foi veiculada pelo jornal O Povo, sobre a batalhadora Lourdes Albuquerque, mãe dos ex-sub secretário de Ação Social do Estado do Ceará, e ex-candidato a deputado estadual, o sociólogo Pedro Albuquerque. Pedro foi um dos mártires da guerrilha do Araguaia, que foi trucidada pelo regime militar que se instituiu no Brasil. Pedro fugiu para o Chile, juntamente com Moema Santiago, e colaborou com o governo do presidente Salvador Allende, que também foi deposto pelo General Pinochet.
    Pedro foi um dos torturados, e teve a sorte de ainda estar vivo. E isso tudo começou com a silenciosa luta de sua mãe, Dona Lourdes.
    Todo o movimento cearense começou com a volta do chavalense Chico Teodoro, e com a fundação do PCdoB no Ceará. Chaval era um foco de disseminações socialistas para o nordeste, e já na época do regime ditatorial de Getúlio Vargas, nos anos 30, Chico Teodoro já foi preso e torturado. Chico Teodoro, teve suas homenagens, esse ano, por parte da Câmara de Vereadores de Camocim. E não teve nenhuma homenagem, ainda, por parte de sua cidade natal, em Chaval.
    Bem, vejamos a entrevista com Dona Lourdes Albuquerque:


 

Lourdes Albuquerque preferia os filhos lutando do que alienados


Maria de Lourdes Miranda de Albuquerque, 90 anos, um filho para década vivida, militante pró-anistia. Sem tomar das armas, desafiou a ditadura militar no Brasil. Leia a seguir a íntegra da entrevista publicada nesta segunda-feira (20/08), no jornal O Povo:










 













Bem humorada, Lourdes recupera um episódio para ilustrar as querelas ideológicas que tinha com o marido, o comunista Mário Albuquerque, 21 anos mais velho. À época, como vivessem no aluguel, era natural que a pauta de reivindicações de Lourdes, mãe proletária, fosse dominada por um tópico: a compra da casa própria. Encarapitado na doutrina stalinista, porém, o cônjuge rejeitava a propriedade burguesa. E prometia: “A revolução vem bem ali”.

Era o começo da segunda metade do século XX, e a casa logo viraria realidade; a tão acalentada revolução “vermelha”, não. À sombra dos ditadores, essas pequenezas da vida matrimonial eram a menor das preocupações de Maria de Lourdes Miranda de Albuquerque. Menos por vocação política do que por amor, a jovem mulher aninhava em casa uma prole cujo laço comum, que não era o de sangue, tornava o endereço da família um lugar marcado: eram perseguidos políticos.

Dos nove filhos de Lourdes, quatro seriam presos e torturados durante o regime de exceção que se instalaria no País a partir de 1964. Três homens e uma mulher. Houve outros. Sem aviso prévio, a morada dos Albuquerque convertia-se poucos em esconderijo para militantes políticos em desacordo com a nova ordem vigente. Deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores (PT), José Nobre Guimarães foi um deles. “Veio para cá muito pobre, com chinela rasteira”, conta Lourdes.

Aos 90 anos, alcançados há menos de um mês, dona Lourdes passeia entre memórias de infância e juventude. Da meninice, traz reuniões secretas em quartos fechados na pequena Chaval, interior do Ceará. Da adolescência, os muitos namoricos que justificavam o aposto de “moça danada”. Da maturidade, os filhos, de sangue e espírito, que manteve longe do punho cerrado do regime militar.

O POVO - A senhora é natural de Chaval ou é de Granja?

Maria de Lourdes Miranda de Albuquerque - Sou de Granja, mas fui registrada em Chaval. Me criei em Granja e em Chaval. Fiquei muito em Viçosa, em Parnaíba... Era uma moça muito danada (risos). Passei em Chaval até os 12 ou 13 anos e fui para Camocim, para casa de um parente meu. Lá encontrei meu marido. Tinha 18 anos e ele, 39. Quando cheguei lá, arranjei um noivo. Era escrivão do cartório. As festas nessa época sempre se davam em casas de família. Teve uma na casa de um amigo nosso. Ele (o noivo) não quis ir porque estava doente. Mas fiquei louca pra ir e terminei indo olhar com uma amiga. E lá encontrei um rapaz que me despertou um pouco. Era desconhecido porque era de Fortaleza. Não sabia quem era ele nem ele sabia quem eu era. No dia seguinte, andou falando com um amigo e descobriu quem era. Foi bater lá em casa, em Camocim. Disse a ele do noivado, mas adolescente não tem muito amor (risos). Logo se apaixonou. E eu pensando no outro, vendo o que fazia. Mas como o lugar é pequeno, o noivo soube logo e tive que acabar com ele. Passei seis meses com o primeiro noivo, mas acabei casando com o Mário (Albuquerque, falecido em 1981). Namoro e noivado, tudo foi dois meses. Casamos em 1942, em Camocim. Mário trabalhava na Panair (subsidiária no Brasil de uma companhia aérea norte-americana). Era comunista. Na época, eu não sabia. Era muito nova e não ligava muito. Mas minha mãe tinha ideais comunistas. Via na minha casa ela fazendo reuniões.

Que reuniões eram essas?

Eram em quarto trancado. Nessa época, ninguém podia falar em comunismo. Meu pai era católico, mas também não se incomodava com o ideal dela. Era a mais nova e toda vida gostava muito de saber das coisas.

Sua mãe falava sobre os encontros?

Comigo, conversava, mas com os outros filhos, não. Ficava curiosa para saber. Às vezes, perguntava e ela dizia que era sobre as guerras de tal país. Aí eu dizia: “É lá no país, a senhora não tem nada a ver com isso”. Quando ela soube que meu marido era comunista, ficou muito feliz. Ninguém o conhecia, mas meu pai telefonou ao cartório para saber se era solteiro. Meu pai não queria muito porque o Mário era comunista. Embora minha mãe fosse... Meu marido era um homem muito bom, mas muito impertinente. Trabalhava durante o dia e à noite fazia comício contra os americanos. Aí foi demitido. Pregava noite e dia o comunismo. Passou muito tempo desempregado porque só podia trabalhar com comunismo. Comunismo não dá emprego a ninguém! Quando morreu, morreu só com um salário mínimo. Não tinha dinheiro pra nada. Tive que trabalhar em uma máquina de costura já velha, sem motor. Costurava a noite todinha para, no dia seguinte, entregar as costuras para ter dinheiro para comer. Depois arranjei um emprego para ensinar arte. Ensinava na Igreja dos Remédios.

Como foi que sua mãe se envolveu com política? Não era muito comum, nesse tempo, uma mulher se aproximar de ideologias, sobretudo a comunista.
A mãe contava que se revoltou quando foi casar. Trabalhava muito na igreja, tocava violoncelo, e queria casar em tal altar. Aí o padre disse assim: “Esse altar é mais caro”. Ela disse: “Então pronto! Se pudesse, nem casar eu casava”. Daí se rebelou, ficou revoltada e não foi mais à igreja. Os pais delas não tinham nada de política. Meus irmãos também nunca se interessaram. Quando Mário (o filho) foi preso, fez uma carta, que estava muito satisfeita com o que ele fez. Que ela estava de acordo. Mas o Mário nunca recebeu essa carta.

Como foi que a senhora reagiu quando seu primeiro filho foi preso?

O Pedro (filho) estava em casa, sentado na sala, e eu estava preparando o almoço. Um vizinho entrou para avisar: “Dona Lourdes, entraram dois caras aí e levaram o Pedro preso”. Fiquei louca. Levaram para a rua Tiradentes e depois para o 23º BC (Batalhão de Caçadores, em Fortaleza). Não o visitei porque adoeci. Fiquei sem enxergar. Urinei sangue três meses. Fiquei muito doente. Pedro passou 17 dias preso. Era estudante da Escola Técnica (atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará) e do movimento estudantil. Foram as primeiras prisões.

Quando Pedro voltou, a senhora percebeu alguma diferença nele?

Pedro sempre foi muito forte mesmo e eu sempre fui muito forte com ele. Nunca entristeci. Nunca chorei por meus filhos estarem no movimento, nem quando estavam presos. Achava que estavam certos na luta deles.

Mas a senhora queria que os meninos tomassem o caminho da militância contra a ditadura?

Não queria diretamente, mas também não queria que não entendessem a verdade. Preferia lutando do que sendo alienados. Tinha uma amiga que disse: “Se a senhora não for falar com Mário para ele dizer que entrou no movimento (estudantil) por causa de colegas, ele vai mofar e não sai da cadeia”. Eu disse: “Nesse caso, ele vai mofar, porque eu não vou fazer isso. Se um filho meu for dar uma declaração dessa, eu prefiro morrer”. “Então a senhora é igual aos filhos.” “Não sou igual, mas talvez seja parecida.”

Quando havia divergência em casa, a senhora ficava do lado de quem, do marido (stalinista) ou dos filhos (trotskistas)?
Ficava mais do lado dos meninos (risos). O Mário (marido) era muito sectário. Dizia para comprar uma casa e ele respondia: “Não, mulher! A revolução vem bem ali”.

Havia reuniões secretas na sua casa assim como aconteciam na da sua mãe?

Acolhia muita gente. Quando chegavam, não faziam reunião. Faziam fora. Já iam suspeitos, já chegavam escondidos. Mas aceitava todos. Recebi um de Recife que chegou seis horas da manhã, que era a hora que os policiais chegavam lá em casa. O Guimarães (deputado federal José Nobre Guimarães, do Partido dos Trabalhadores-PT) veio para cá muito pobre, com chinela rasteira... 

Como seu marido tinha problemas para encontrar emprego por causa do comunismo, quem sustentava a família?
Passei 20 anos trabalhando três expedientes. Ensinava artes de manhã e de tarde e à noite trabalhava nos Correios. Depois fui chamada para o INSS, onde passei 10 anos. Meu marido adoeceu porque o Célio (filho) passou um ano preso. Era tão criança, um menino assim tão tolo. Tinha 18 anos. Foi preso porque pichava os ônibus com um “X”, de voto nulo. Mandei o Célio ir lá no movimento (estudantil) atrás de um rapaz de Recife para ter notícias do Mário. Quando chegou lá, viu e entrou.

Foi nesse período que a senhora perdeu o paradeiro dos filhos...

O Mário foi para Recife e lá tinha uma casa chamada “Casa de Farinha”. Nesse tempo, Mário era casado com a Vera e foi para Recife lutar. O Mário também estava preparado para ir embora, mas esqueceu um documento e voltou. Quando chegou, a casa já estava ocupada pelos militares. Passou quatro anos preso. Depois transferi ele para cá. Só iam transferir se pagasse, mas não podia pagar. Então, fiz uma carta ao ministro (da Justiça no governo Geisel) Armando Falcão. Todo mundo dizia que o ministro não ia receber a carta, que ia jogar no lixo. Eu dizia: “Mas eu faço!”. E fiz. Me respondeu muito sensibilizado e disse que meu filho seria transferido a qualquer momento. No caso do Pedro, passei oito meses sem saber onde estava. Ia à Polícia de manhã, de tarde e de noite. Ia e eles negando. O Pedro passou oito meses sendo torturado. Disse que chegou a ficar em um quarto que era um forno. Não ficava em pé, ficava de cócoras. Pedro também esteve no Araguaia (movimento guerrilheiro do fim dos anos 1960 à metade dos anos 1970). Lá a mulher dele engravidou. O partido queria que ela abortasse. Nem ele nem ela aceitaram. Então, tiveram que sair. Voltaram porque queriam que a menina nascesse. A filha nasceu aqui, escondida. Sabia que ela estava aqui, só não sabia onde.

Depois disso, as visitas da Polícia a sua casa se tornaram frequentes?

Chegavam a qualquer hora e invadiam. O que fizeram da primeira vez, fizeram todas as vezes. Tudo que estivesse dentro de casa, botavam para fora. Ameaçavam matar a gente. Meu marido ficava muito nervoso. Só quem atendia era eu. O período mais difícil foi em 64. Foi muito horrível. No AI-5, foram lá em casa cinco vezes, das onze da noite até de manhã. Atrás do Mário e do Pedro. Eu dizia: “Eles não estão. Vocês acham que sou tola ou meus filhos são babacas?” Passavam debaixo das redes das minhas filhas. Essas visitas duraram muito tempo.

Como foi o episódio em que a senhora cortou a própria orelha?

Me deram a notícia de que o Mário estava preso e fiquei tão louca que puxei os brincos da orelha. Até hoje tem o corte. Não queria costurar. Deixa o corte aí como lembrança. 

Como a senhora se engajou no movimento pela anistia?

A gente lutou muito pela anistia. O dom Aloísio (Lorscheider, 1924-2007, foi arcebispo de Fortaleza de 1973 até 1995) também queria a anistia, mas não queria que a gente falasse ou apressasse porque a 10ª Região Militar podia complicar. Mas a gente não ligou. Estava em casa quando recebi um bilhete da Maria Luiza (Fontenele, ex-prefeita da capital cearense), marcando um encontro. Não a conhecia. Fui lá e era para fazer um movimento para pedir pela anistia. A gente se encontrava na ACI (Associação Cearense de Imprensa). As reuniões eram para ir a jornais, lutar na rua com o pedido de anistia dos presos políticos. A gente não se acovardou.

E o reencontro com os filhos?

Quando Mário saiu da prisão, a casa se encheu de gente. Não sei de onde tirei tanto frango assado (risos). Passou uma semana de festa lá em casa. Depois, quando o Pedro chegou também, perguntaram o que faríamos para a festa dele. “Faça baião e paçoca, que ele nunca mais comeu.”Foi o que eu mandei fazer.

Qual foi a maior felicidade política que a senhora teve?

A volta dos filhos foi uma glória para mim. Mas continuo na mesma luta. O que eles fizeram, tinha que ser feito. Se eles não tivessem feito isso, o que seria do Brasil? Continuar do mesmo jeito? Apesar de hoje não estar bom, foi um alicerce. É daqui pra frente. Não pode voltar de maneira alguma. Fico triste quando vejo as pessoas alienadas. Se todo mundo pensasse como eu penso, o País seria outro.

Fonte: Jornal O Povo

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Gostar de música alta ignifica tendência a fumar maconha


Pessoas que ouvem música alta tendem a fumar mais maconha

    A ciência adora deixar seus pais preocupados. Primeiro confirma o discurso básico: música alta pode prejudicar a audição. Depois vem com uma história de que usar fones de ouvido pode matar, por conta da distração. E agora mais essa: quem ouve música alta, num mp3 player, tende a fumar mais maconha.
       Pesquisadores da Universidade Erasmus MC, da Holanda, entrevistaram 944 estudantes, entre 15 e 25 anos. Eles queriam saber quanto tempo os jovens passavam escutando música alta no mp3 player ou na balada. E separaram os voluntários em dois grupos: quem ouvia música em níveis arriscados (acima de 89 decibéis – tão alto quanto o barulho de um cortador de grama – por pelo menos uma hora diária) e aqueles que não se expunham aos perigos da música alta.
       A maioria dos jovens – quase 80% dos entrevistados –, se encaixou na “turma de risco”. Pouco mais de 30% deles ouviam música alta no mp3 player, enquanto outros 49% eram expostos aos “riscos da música alta” em bares ou shows.
       Entre aqueles que ouvem música alta por conta, no iPod, a probabilidade de ter fumadomaconha nas últimas 4 semanas era duas vezes maior do que entre os participantes do grupo “fora de risco”. O pessoal das baladas e shows fica de fora dessa, sendo a turma menos propícia a usar maconha. Em compensação, eles bebiam mais e faziam sexo sem camisinha com mais frequência.
      A intenção dos pesquisadores é chamar a atenção para a relação entre o hábito de ouvir músicas altas e outros comportamentos de risco à saúde, como abuso de substâncias tóxicas e sexo sem proteção.

Fonte: site da SuperInteressante (por Carol Castro)
Crédito da foto: gettyimages

domingo, 12 de agosto de 2012

Cientistas israelenses desenvolvem maconha medicinal sem 'barato'

Cientistas da Universidade Hebraica de Jerusalém desenvolveram um tipo de maconha medicinal, neutralizando a substância THC, que gera os efeitos cognitivos e psicológicos conhecidos como "barato".
De acordo com a professora Ruth Gallily, especialista em imunologia da Universidade Hebraica de Jerusalém, a segunda substância mais importante da cannabis -o canabidiol (CBD)-- tem propriedades "altamente benéficas e significativas" para doentes que sofrem de diabetes, artrite reumatóide e doença de Crohn.
Z. Klein/BBC Brasil
Folha da plantação da empresa Tikkun Olam
Folha da plantação da empresa Tikkun Olam
Gallily, que estuda os efeitos medicinais da cannabis há 15 anos, disse à BBC Brasil que o CBD que se encontra na planta "não gera qualquer fenômeno psicológico ou psiquiátrico e reprime reações inflamatórias, sendo muito útil para o tratamento de doenças autoimunes".
"Obtivemos resultados fantásticos nas experiências que fizemos in vitro e com ratos, no laboratório da Universidade Hebraica", afirmou a cientista, que é professora da Faculdade de Medicina.
De acordo com ela, após o tratamento com o CBD, o índice de mortalidade em consequência de diabetes nos animais foi reduzido em 60%, tanto em casos de diabetes tipo 1 como tipo 2.
"Para pacientes idosos que sofrem de artrite reumatoide, o uso da cannabis pode ter efeitos maravilhosos e melhorar muito a qualidade de vida", disse Gallily.
"Constatamos em nossas experiências que o CBD leva à diminuição significativa e muito rápida do inchaço em consequência da artrite."
A pesquisadora afirma que remédios à base de CBD seriam muito mais baratos que os medicamentos convencionais no tratamento dessas doenças.
A empresa Tikkun Olam obteve a licença do Ministério da Saúde israelense para desenvolver a maconha medicinal e cultiva diversas variedades da planta em estufas na Galileia, no norte de Israel.

Z. Klein/BBC Brasil
Plantação de maconha da empresa Tikkun Olam
Plantação de maconha da empresa Tikkun Olam
PACIENTES
De acordo com Zachi Klein, diretor de pesquisa da Tikkun Olam, mais de 8.000 doentes em Israel já são tratados com cannabis, a qual recebem com receitas médicas autorizadas pelo Ministério da Saúde.
De acordo com Klein, a empresa pretende desenvolver um tipo de maconha com proporções diferentes de THC e canabidiol, para poder ajudar a diversos tipos de pacientes.
"Há pacientes para os quais o THC é muito benéfico, pois ajuda a melhorar o estado de espírito e abrir o apetite", afirmou.
Ele diz ainda que, em casos de doentes de câncer, a cannabis em seu estado natural, com o THC, pode melhorar a qualidade de vida, já que a substância provoca a fome conhecida como "larica", incentivando os pacientes a se alimentarem.
O psiquiatra Yehuda Baruch acredita que "o CBD tem significados medicinais fortes que devem ser examinados". Baruch, que é o responsável pela utilização da maconha medicinal no Ministério da Saúde, disse à BBC Brasil que "sem o THC, a cannabis será bem menos atraente para os traficantes de drogas".
O psiquiatra afirmou que nos próximos meses o Ministério da Saúde dará inicio a um estudo sobre os efeitos do THC e do CBD em pacientes que sofrem dores crônicas.
O experimento será feito com 50 pacientes, que serão divididos em dois grupos. Um grupo receberá cannabis com alto nível de THC e baixo nível de CBD e o segundo receberá mais canabidiol do que THC.
Depois de um mês os grupos serão trocados e, durante a experiência, os pacientes preencherão questionários avaliando as alterações na intensidade da dor.

Fonte:Folha.com

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Nasa conta 4.700 asteroides potencialmente perigosos para a Terra




Há 4.700 asteroides potencialmente perigosos para a Terra, segundo dados da sonda Wise que analisa o Cosmos com luz infravermelha, informou nesta quarta-feira (16) a Nasa (agência espacial americana). 

 A agência afirmou que as observações da Wise (em inglês, Wide-field Infrared Survey Explorer) permitiram a melhor avaliação da população dos asteroides potencialmente perigosos de nosso Sistema Solar. 

 Esses asteroides têm órbitas próximas à Terra e são suficientemente grandes para resistir à passagem pela atmosfera terrestre e causar danos se caírem no nosso planeta. 

 Os novos resultados foram recolhidos pelo projeto Neowise, que estudou, utilizando luz infravermelha, uma porção de 107 asteroides potencialmente perigosos próximos à Terra com a sonda Wise para fazer prognósticos sobre toda a população em seu conjunto. 

 Segundo a Nasa, há aproximadamente 4.700 deles --com uma margem de erro de mais ou menos 1.500--, que têm diâmetros maiores de cem metros. 

 Até o momento, calcula-se que entre 20% e 30% desses objetos foram localizados. 

 "Fizemos um bom começo na busca dos objetos que realmente representam um risco de impacto com a Terra", disse Lindley Johnson, responsável pelo Programa de Observação de Objetos Próximos à Terra, desenvolvido pela Nasa. 

 No entanto, disse, "temos de encontrar muitos e será necessário um grande esforço durante as próximas duas décadas para encontrar todos os que podem causar graves danos ou ser destino das missões espaciais no futuro".

Fonte: DA EFE  (via Folha.com)
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